João de Jesus Paes Loureiro entre o cânone e a cultura marginal

 Escritor prepara lançamento de três novas obras e parcerias com artistas da cultura marginal

Arquivo Pelé do Manifesto
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Uma das características marcantes de João de Jesus Paes Loureiro é a capacidade de transitar entre conhecimentos e práticas distintas. Ao longo de sua história Paes Loureiro transitou entre as diferentes artes. Escreveu peças de teatro, romances, contos e poesia. Com a mesma maestria estudou e escreveu teses e livros com o rigor científico sobre a Amazônia, do individual ao coletivo. Foi de poeta a professor até secretário de educação, em 1987 e 1990. Não há estudioso sobre a Amazônia que não tenha no mínimo ouvido falar do abaetetubense de 83 anos. João de Jesus Paes Loureiro está assegurado no cânone da cultura paraense com mais de 30 livros publicados e vários prêmios. Recentemente, empossado na Academia de Letras do Brasil (ALB), Paes Loureiro continua inquieto e ativo com novas parcerias, desta vez na cultura periférica e marginal.

O escritor está terminando de produzir três livros que tem a previsão de lançamento neste ano. Dois serão livros de poesia, uma de suas especialidades, outro será um estudo sobre as artes marginais como o rap, o break, o muralismo, o grafismo, e a estética drag.

“Além dessas artes, que são absolutamente novas, e de grande originalidade, eu incluirei diálogos que tenho mantido com alguns artistas dessas modalidades de artes periféricas e ao mesmo tempo fazendo parcerias com alguns deles, por exemplo, uma parceria em rap com o Pelé do Manifesto, em que eu fiz o poema todo, ele canta e eu declamo. Um outro como forma poética de zine que é um poema de cunho artesanal em parceria com a artista e bailarina Azuliteral. São alguns exemplos dessa área periférica e que mostram a minha imersão criativa como poeta. Nessa nova camada de arte que vem se fortalecendo e que é uma nova forma de vanguarda na atualidade”, acredita Paes Loureiro.

O rapper Pelé do Manifesto, que também é estudante do curso de Letras, foi surpreendido com o pedido de parceria. “Foi algo surreal. As obras dele são algo que estudamos dentro da academia, ele é um ícone dentro da literatura paraense. Para mim, que sou um rapper, um poeta da literatura marginal, estar fazendo essa junção foi algo fantástico”, destacou.

As parcerias entre os artistas das artes periféricas e Paes Loureiro devem ser lançadas até o final deste semestre em músicas que estarão disponíveis nas plataformas de streamings. O livro de estudo sobre esses novos tipos de arte se chamará “O Espelho quebrado da arte canônica”.

“Esse título porque a arte canônica que é a arte central e dominante não incorpora as artes ditas periféricas, que ficam de fora desse círculo mais fechado. E ao mesmo tempo, essas artes periféricas não imitam, nem são influenciadas por essa arte digamos dominante, que também são conceituadas de artes canônicas. Então, eu penso que as artes periféricas não se miram no espelho das artes canônicas e dominantes, mas sim rompem com esses modelos e criam suas novas formas artísticas”, explica.

“Eu sempre me entusiasmei com as novas formas de artes que venho acompanhando ao longo de minha vida literária e procuro incorporar no meu pensamento uma compreensão dessas obras. E, ao mesmo tempo, ir atualizando o meu processo criador. Devo dizer que nessa categoria de artes periféricas considero também as artes tradicionais paraenses, as artes que vem do interior, que são periféricas em relação a Belém. Se nós pensarmos bem, a própria arte feita na Amazônia de características culturais amazônicas embora sejam de nível universal e de qualidade artística reconhecida são também artes periféricas com relação ao brasil.

Com um objetivo similar, Paes Loureiro pretende contribuir com a Academia de Letras do Brasil (ABL) ao ocupar a cadeira de nº 25, que tem como patrono Emílio Moura. A entidade de âmbito nacional foi criada em 1987 na capital federal com o intuito de promover a defesa do idioma e a criação literária. Ele quer expandir a fronteira de conhecimento do mundo com a Amazônia.

“O que eu pretendo levar, além das obras já realizadas, é o meu ponto de vista da valorização das formas de arte do nosso tempo e da região amazônica, para cada vez mais ampliar o círculo de reconhecimento e de valor que já é grande. Eu tenho que contribuir para a valorização da nossa cultura, através das artes, e principalmente da cultura viva, da arte do momento. Não a cultura apenas como tradição e as artes como coisas do passado, quero levar a efetividade presente da criação artística e da grandeza da nossa cultura, a sabedoria que vem da cultura ribeirinha, a maravilhosa que vem da cultura indígena, e o fortalecimento que para ela trouxe da cultura negra”, sintetiza.


Fonte: O Liberal 

Texto: Vito Gemaque

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