A valorização do conhecimento e tradições de um povo pelos mestres de cultura

 Mestres de cultura popular ganham cada vez mais visibilidade

Divulgação / Roberta Brandão
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Uma das designações que tem ganhado cada vez mais contornos de respeitabilidade e valorização são os mestres e mestras de cultura popular. Ao longo dos últimos anos, o título que era mais conhecido na música regional passou a ser utilizado para denominar todos aqueles que tem ampla experiência prática com tradições históricas do povo brasileiro em várias artes da cultura. Os incentivos têm aumentado com editais, que valorizam o trabalho dos mestres e mestras, porém ainda estão muito distantes daquilo que quem faz cultura deseja.

“Não só o Marajó, ou o Pará, mas o Brasil como um todo tem que estar mais assíduo aos mestres que estão aí se perdendo da cultura popular, sobretudo das comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas. É a classe mais carente que há hoje com foco na cultura popular, sobretudo na Amazônia, que a gente sabe que é uma das regiões mais ricas do Brasil, quem sabe do mundo. Quantos conhecedores de cultura popular não estão ali sem uma boa saúde e alimentação, sem apoio para poder desenvolver o conhecimento que tem pela cultura popular? Eu acho que os nossos governantes, a nível de Brasil, estado e municípios tem que estar mais unidos para render mais”, enfatiza o Mestre Damasceno, que ganhou uma grande homenagem na avenida do samba em desfile do Rio de Janeiro e resume uma das reivindicações antigas dos mestres.

A secretária de Cultura do Estado do Pará, Úrsula Vidal, adianta que está formatando junto à campainha de Salvaguarda do Carimbó um grande encontro de Mestres e Mestras de Cultura para debater e formular políticas públicas mais específicas para “nossos mais valorosos patrimônios vivos”. “Nossos Mestres e Mestras são verdadeiras bibliotecas vivas. A oralidade é a principal correia de transmissão de saberes, nesta nossa Amazônia mítica e mística. Os modos de fazer, de plantar, de colher, de tocar e produzir instrumentos, de compor, de rezar e de celebrar os ritos e crenças só são preservados graças à memória e à dedicação destes Mestres e Mestras. São a própria salvaguarda; a corporeidade de nossas matrizes identitárias”, afirma a secretária.

A técnica da superintendência do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) no Pará, Ana Lima Kallás, explica que não há uma definição própria de mestre de cultura no órgão e inexiste um verbete sobre mestres de cultura no Dicionário do IPHAN. A definição depende de cada manifestação cultura que está sendo avaliada. Esses saberes múltiplos - música, dança, vestimenta, confecção de instrumentos – estão interligados, remontando à identidade de um lugar e de uma comunidade.

“Isso vai depender de qual manifestação cultural estamos lidando, havendo inclusive mais de uma concepção de mestre em um mesmo bem cultural e às vezes até polêmicas em torno de quem pode ser considerado mestre de cultura. No caso do Carimbó, o mestre é reconhecido enquanto tal pela comunidade onde atua. Esse reconhecimento está relacionado ao tempo de atuação desse mestre (por volta de quinze anos), à qualidade do trabalho realizado naquela localidade e à transmissão de saberes que ele protagoniza”, comenta.

Um exemplo desses mestres é Raimundo Santos Rodrigues, 49 anos, residente no Estado do Pará a 30 anos. Mais conhecido como Mestre Moita, do tambor de crioula, Raimundo se dedica desde quando chegou ao Estado à ensinar, tocar e expandir a dança de origem africana praticada por descendentes de escravos africanos do estado brasileiro do Maranhão, em louvor a São Benedito. Os longos anos na cultura popular no bairro da Terra Firme, em Belém, lhe trouxeram reconhecimento da população.

Mesmo com alguns avanços como o pagamento de cachê para apresentação no São João da Nossa Gente, realizado no ano passado pela Prefeitura Municipal de Belém (PMB), Mestre Moita pede mais apoio. “Eu me sinto valorizado, eu não costumo fazer o tambor só, eu chamo as pessoas para participar comigo. Eu me sinto valorizado pelas pessoas, quando estou em qualquer ambiente todos vem falar comigo ‘e aí mestre Moita’ e agradecer. Agora em relação ao governo e ao município deveriam olhar mais para os mestres de cultura. Precisa melhorar na parte do estado e município valorização à cultura”, declara.


Fonte: O Liberal 

Texto: Vito Gemaque 

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