Trama das Águas: projeto de financiamento coletivo publicará 50 autoras paraenses



Iniciativa tem curadoria da escritora e artista plástica Monique Malcher e edição de Toni Moraes, editor e sócio da Monomito Editorial

Publicar uma obra literária é uma tarefa árdua para qualquer autor, ainda mais em um país que ainda no século XXI tem amplas parcelas da população analfabeta ou analfabeto funcional. Ser mulher e viver no Pará amplia as dificuldades de publicar qualquer coisa e ser reconhecida pelo seu trabalho. Para dar uma força para todas as escritoras, tanto aquelas que já publicaram algo até aquelas que nunca tiveram nenhum parágrafo ou verso publicado em livro, o projeto de publicação do livro Trama das Águas, da Monomito Editorial, foi criado.
A publicação que se tornará concreta por meio de um financiamento coletivo pela plataforma Catarse conseguiu o feito de alcançar 150% do valor solicitado em apenas dois dias. Inicialmente, a meta era alcançar o valor R$ 11 mil em dois meses, mas o público encampou o projeto que conseguiu R$ 16 mil em muito menos tempo.

O livro Trama das Águas, da Monomito Editorial, reunirá mais de 50 textos de escritoras paraenses. A expectativa é que o lançamento ocorra em novembro. Com a curadoria da escritora e artista plástica Monique Malcher, autora de Flor de Gume (Ed. Pólen, 2020), e edição de Toni Moraes, editor e sócio da Monomito Editorial, projeto já é considerado uma referência de sucesso dentro da plataforma Catarse, empresa de crowdfunding.
“Se eu disser que não esperávamos todo esse apoio vou estar mentindo. Esperávamos porque sabíamos do potencial das escritoras e do público, que cada vez mais quer ler histórias diferentes e com novas perspectivas. As pessoas têm entendido o quão político e importante é ler mulheres do norte. O que não esperávamos era a rapidez que o projeto ia alcançar todas as metas. Uma campanha de 60 dias, alcançou todas as metas em três”, declarou Monique Malcher.
Uma das escritoras que publicará pela primeira vez a terapeuta ocupacional Adriane Leite, de 32 anos, que escreve contos e poemas. “Escrevo desde criança. Tenho uma coleção de cadernos amontoados, mas nunca havia tentado publicar nada”, confessa. Adriane busca inspiração em grandes escritoras como Virginia Woolf, Susan Sontag, Elena Ferrante, Silvina Ocampo, Ana Cristina Cesar, Wislawa Szymborska, Alejandra Pizarnik, Marília Garcia e Audre Lorde.
No Trama das Águas será publicado o poema “A Falta”. “Nele falo um pouco sobre os atravessamentos que perpassam a condição de ser mulher e as possibilidades que isso tudo se conecta à nossa ancestralidade. De como nossas histórias vêm sendo contadas ao longo do tempo e das repercussões atuais que elas trazem à nossa subjetividade”, explica.
Um dos contos selecionados para estar na publicação Trama das Águas é de autoria da repórter da editoria de Cultura de O Liberal Ana Carolina Matos, que se inscreveu e foi selecionada pelo edital. O conto “Dores Hereditárias” foi escrito especialmente para o concurso. “Tentei resgatar algumas memórias da minha infância, principalmente com mulheres da minha família do interior do estado. Então relembrei algumas vivências que me remetiam a experiências de amazônidas”, detalha.
Repórter de O LIBERAL, Ana Carolina Matos integra a obra com o conto Dores Hereditárias (Arquivo pessoal)
“No final das contas, foram assuntos que me atravessaram na vida adulta que me fizeram escrever esse conto. Trouxe uma história que pode ser, é ou já foi a de tantas mulheres, que se veem diante de uma gravidez indesejada. Uma realidade que, inclusive, pode ter acontecido em gerações passadas às minhas, e também futuras. Por isso o nome do conto é Dores Hereditárias. Porque a história da protagonista acaba se cruzando com a da própria mãe”, complementa.
A autora que ficou muito feliz pela sua obra ter sido uma das 30 escolhidas e por estar ao lado de outras escritoras que admira Monique Malcher, Bruna Guerreiro e Bianca Leão. “Então, posso dizer que é uma honra para mim dividir um trabalho com mulheres inspiradoras, que mostram a força da literatura produzida por mulheres no Pará”, assegura. Ana Carolina espera que o sucesso da iniciativa impulsione a produção literária feminina paraense e se multiplique. “Esse vai ser o primeiro texto não jornalístico que publico oficialmente, então estou muito orgulhosa e feliz com essa oportunidade”, agradece.
A escritora e jornalista Bianca LeãoA escritora e jornalista Bianca Leão é uma das autoras selecionadas no projeto (Divulgação)
Para Moraes, a reação do público em abraçar o projeto “foi uma surpresa, claro, mas mostra também que as pessoas estão buscando conhecer novos nomes e querem conhecer o que essas mulheres potentes do Norte estão produzindo”, analisa. Até da última sexta-feira, dia 21, o projeto já somava mais de R$ 18 mil em apoios. As novas metas do financiamento também representaram a chegada de mais textos ao livro, que passaram originalmente de 30 para 50 textos em prosa e verso, selecionados por meio de edital.

Os textos selecionados pelo edital serão unidos a outros sete textos de autoras convidadas para o projeto através de curadoria que foram Rafaela Oliveira, Roberta Tavares, Mayara La-Rocque, Bruna Guerreiro, Paloma Franca Amorim, Gabriela Sobral e Monique Malcher.

A decisão de expandir a quantidade de textos foi reflexo também da qualidade dos textos que Moraes e Malcher contam terem recebido do total de 200. A campanha de financiamento segue até 16 de outubro e o livro tem previsão de lançamento para o mês de novembro. Além dos textos, o projeto conta ainda com as ilustrações e fotografias de artistas de destaque, como Beatriz de Miranda, Helô Ilustra, Layse almada, Moara Brasil e Nay Jinkss.
Fonte: O Liberal/Televisão (Texto e Foto)

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