Mestres da música paraense ganham mais visibilidade


Símbolos do Pará, os mestres da guitarrada e carimbó têm ganhado mais visibilidade nos últimos anos. A ascensão dos ritmos nortistas que rompem barreiras e alcançam palcos e ouvidos até fora de terra brasilis é responsável por manter viva uma das maiores tradições da música paraense. Apesar de um reconhecimento crescente, os músicos enfrentam um longo e árduo percurso.
Com uma experiência de 40 anos de carreira e mais de 20 álbuns lançados, entre discos solo e os LPs da série "Guitarradas" dos anos 80, Aldo Sena ficou afastado dos estúdios de gravação por quatro anos. Hoje, 10, o guitarreiro lança o single  "Rei do Banjo" - a primeira de várias canções que devem ser lançadas pelo músico ainda em 2019 - com um show no Centro Cultura Apoena, no Clube da Guitarrada, onde Sena será acompanhado pelos músicos do clube. A música também será lançada nas plataformas digitais. A faixa traz a participação do Mestre Curica, outro consagrado artista local.
O título da canção homenageia o neto do músico, que foi apelidado de Rei do Banjo por um amigo do artista, conhecido como "Verinha do Carro-Som" e faz referência, também, ao instrumento de cordas clássico do carimbó tradicional.  As gravações foram realizadas no estúdio Apce e a produção da canção é de Bruno Rabelo (Cais Virado) e de Aldo Sena. Além disso, participaram também os músicos Edvaldo Cavalcante (bateria), Charless Bass (baixo), Douglas Dias (percussão) e Marcelino (banjo 2).
"É um single que tô lançando depois de quatro anos sem gravar. Exige um repique de banjo. Tem tudo a ver com a nossa cultura. É um carimbó clássico", conta o músico. "Estou voltando depois de quatro anos em que eu fiquei no nordeste. Na época fui pra ficar quatro semanas e fiquei quatro anos. Isso mostra o valor que a nossa música tem, apesar de ser uma música instrumental. Agora estou retornando junto com essa galera nova que tá com projeto de guitarrada e pesquisa. Vai ser uma nova experiência pra mim", acrescenta.
Além da novidade, os grandes sucessos como "Solo de Craque",  "Lambada Complicada",  "Melô do Tibúrcio", "Cercando Frango", "Melô dos Sessenta", "Lambada dos Brasileiros" também fazem parte do repertório da noite de apresentação. 
Ao lado de Curica e Mestre Vieira, seu grande ídolo, a participação no disco "Mestres da Guitarrada" (Selo Funtelpa) de 2004 é lembrada com carinho pelo músico, já que foi um marco no reconhecimento da guitarrada em território nacional. "Ficamos juntos durante cinco anos e tivemos a oportunidade de viajar por todo o Brasil e, em 2006, estivemos na Alemanha. Foi muito marcante ver a guitarrada chegar a ter esse reconhecimento", relembra.
A experiência também foi de suma importância para Mestre Curica, que soma 57 anos de carreira e shows em países como França, Portugal, Holanda, México e Alemanha. "Lembro da saudade que o Mestre Viera deixou pra nós, mas nós vamos seguir em frente", diz o abaetetubense em voz claramente saudosa.
Mestre Curica soma 57 anos de carreira e shows em diversos paísesMestre Curica soma 57 anos de carreira e shows em diversos países (Divulgação)

Para ele, o fortalecimento da música paraense e reconhecimento dos mestres por uma nova geração, após muitos anos de carreira e décadas de musicalidade, é motivo de imenso orgulho. "Pra nós é um orgulho muito grande as pessoas se interessarem pela guitarrada  e carimbó. Principalmente essa juventude que tem aprendido a tocar banjo. A gente tá vendo que tá dando resultado no mundo todo e nosso prazer é fazer parte disso, junto com essa juventude", conta. "Vejo o interesse, como o La Pupuña, já extinto, que se inspirou nos mestres da guitarrada e outros grupos que vêm surgindo a partir de um estudo que eles fazem na universidade", acrescenta ele, que gravou uma música da artista Gaby Amarantos e foi convidado a participar de um videoclipe da cantora, um exemplo claro do diálogo e ritmos distintos, mas unidos pela musicalidade paraense.
A felicidade, entretanto, não tira o lugar da criticidade do artista, que avalia que o cenário tem se aberto para a musicalidade paraenses, mas os incentivos seguem escassos para os mestres da guitarrada e carimbó. "Falta apoio para a cultura paraense, que é rica. Falta apoio do governo, falta olhar com mais carinho essa turma que tem projeto. Isso tudo é para o engrandecimento do estado. Sou de Marituba e nunca tive apoio nenhum, nem da prefeitura nem de nenhum órgão", comenta.


Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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