Clube "Leia Mulheres" incentiva a leitura e debate de obras escritas por autoras no Pará




Em 2014, quando a escritora Joanna Walsh propôs o projeto #readwomen2014 (#LeiaMulheres2014), a ideia era chamar a atenção para o fato de o mercado editorial mundial dar pouca visibilidade a obras escritas por mulheres, resultando em uma baixa procura por suas produções.
Para reverter tal realidade o projeto propunha um ato simples: ler mais escritoras. No Brasil, em 2015, a ideia foi transformada em algo presencial, quando as amigas Juliana Gomes, Juliana Leuenroth e Michele Henriques levaram o projeto para livrarias e espaços culturais, promovendo clubes de leitura de obras escritas por mulheres, de clássicas a contemporâneas.
O projeto se espalhou pelo país inteiro, com clubes nas capitais e interiores. No Pará existe um total de quatro: Belém, Bragança, Cametá e Capanema. Atualmente mediado por Pamela Raiol, Pamela Soares e Josiane Melo, o grupo de Belém nasceu em 2016, com Gabriela Sobral e Luiza Chedieck.
O clube chegou a ficar desativado por um tempo, mas retornou em 2017. Pamela Raiol explica que a curadoria das obras é feita a partir de temas definidos para cada mês do ano. “É tudo muito democrático. No último encontro de 2018 fizemos uma votação com as pessoas que estavam presentes, para definir recortes temáticos para este ano”, explica.
“São temas como: ‘escritora negra brasileira’, ou ‘escritora LGBTQI+’, para que a gente não fique sempre lendo histórias com perspectivas parecidas”.
O livro escolhido para o mês de março é “Eu Sei Porque o Pássaro Canta na Gaiola”, de Maya Angelou. O encontro ocorre no dia 30, no Sesc Boulevard, com entrada gratuita e sem restrição para participantes.
“O clube é muito livre. As vezes as pessoas perguntam se podem ir para conhecer, mesmo sem ter lido o livro; homens também perguntam se podem participar. Como é uma roda de conversa, todo mundo pode participar, porque na maioria das vezes os temas debatidos são universais”, explica Pamela.
O livro escolhido para este mês aborda temas como o racismo, abuso sexual e libertação. Ele narra a vida de Marguerite Ann Johnson, uma garota negra, criada no sul por sua avó paterna, que carregou consigo um enorme fardo, aliviado apenas pela literatura e por tudo aquilo que ela pôde lhe trazer: conforto através das palavras.
Dessa forma, Maya, como era carinhosamente chamada, escreve para exibir sua voz e libertar-se das grades que foram colocadas em sua vida. As lembranças dolorosas e as descobertas de Angelou estão contidas e eternizadas nas páginas da obra considerada a primeira parte de sua autobiografia, dando voz aos jovens que um dia foram, assim como ela, fadados a uma vida dura e cheia de preconceitos.
A lista de leituras programadas para o ano está disponível no grupo “Leia Mulheres Belém - PA”. “Eu sempre defino o grupo como algo terapêutico também, porque a gente ouve histórias e também fala sobre a vida. Também tem algo muito interessante porque te traz outras perspectivas. A leitura é um ato muito solitário, e quando você participa de um clube, lá tem várias leituras de mundo, e acho que isso é uma das trocas mais válidas, porque aquilo que eu não percebi, o outro percebeu”, conta Pamela.
O simples ato de ler autoras mulheres já pode ser considerado uma ato político, como explica Pamela, que relembra ter sido esse o motivo que a incentivou retomar os encontros do grupo. “Se reunir para ler um livro que fala, por exemplo, sobre violência sexual contra menores, já é ato político. São assuntos políticos e pautas importantes, e o fato de serem autoras mulheres faz muita diferença, porque elas sofrem isso na pele”, destaca.
“Os grupos começaram com essa questão de perceber que a gente lê muito mais homens, porque as editoras publicam mais homens, e normalmente no recorte branco, rico e de primeiro mundo. E um clube coordenado por mulheres, que existe em várias cidades, é um ato político de resistência”.

Fonte: O Liberal/Cultura (Texto e Foto)

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