Desafios da educação indígena em foco na 22ª Feira Pan-Amazônica do livro



“Precisamos estar preparados para garantir nossos direitos e para isso precisamos de uma educação diferenciada”, disse a cacique Kátia Silene Valdenilson, a primeira das tribos gavião no Pará, durante a mesa redonda desta quinta-feira (7), na 22ª. Pan-Amazônica do Livro. Originalmente chamada Tônkyre Akrãtikatêjê, ela conta que teve que mudar de nome por falta de conhecimento do pai e da ausência de políticas públicas destinadas à garantia do registro do nome indígena.
Ao lado da cacique Kátia Silene (PA), a professora Takwyiti Hontryti (PA) e a doutora em Linguística Altaci Rubim (AM), o encontro abordou a formação educacional indígena. Diante de tantos retrocessos ligados a preservação e manutenção da língua e cultura indígena, as estratégias apresentadas por essas mulheres no âmbito na educação apontam todo o potencial que vem sendo desenvolvido por esses povos em busca de autonomia e protagonismo na própria história.
Kátia Silene iniciou no ano de 2014, em Marabá, uma ideia pioneira em educação indígena. A escola Ronoré não tem paredes de concreto ou cadeados nas portas e a forma de educar é baseada na liberdade. “O homem branco se pergunta, por que o indígena quer tanto uma escola dentro da aldeia? Por que precisamos estar preparados para saber nossos direitos”, explica a cacique.
Segundo a professora Takwyiti, existe um estereótipo equivocado sobre o indígena. “Índios e índias têm muita curiosidade, muita sede por conhecimento. Não queremos ser mantidos isolados, queremos que nossa cultura seja respeitada”, defende a professora. Ainda segundo a docente, a escola Ronoré foi reconhecida pela secretária de Educação (Seduc). “Agora o novo desafio é conseguir através do órgão responsável a produção de material didático especifico para os alunos indígenas”, alerta.
Fortalecimento da cultura
Manaus é um município que aponta avanços em relação ao material didático dedicado a formação educacional indígena. Essa e outras experiências de êxito foram apresentadas por Altaci Rubim, descendente da tribo kokama. Tabuleiro, com peças recicladas, que ensina lógica e números através de um jogo onde o objetivo é encurralar uma onça na floresta, livros didáticos com exercícios para aprender a língua do povo Kokama, história em quadrinhos, mascotes, camisas, vestidos e canecas com a temática da etnia e até um aplicativo tradutor do português para o dialeto foram desenvolvidos por Altaci. Tudo com o objetivo de preservar a cultura de seu povo.
O aplicativo “Kokama tradutor” é destinado aos smartphones com dispositivo android e dispõe de mais de 900 palavras da língua Kokama. O app está disponível no play store e também funciona off-line. “Como a nossa língua está em processo de fortalecimento, o nosso povo discutiu em assembleia e decidimos em que a nossa língua precisava ocupar espaços. Não somente o espaço da escola, o espaço da aldeia, espaços nos livros didáticos, mas também espaços virtuais. Como muito de nós temos acesso ao celular, pensamos também em colocar a língua nessa plataforma”, explica a indígena que desenvolveu o aplicativo.


Por Roberta Brandão
Fotos:  Elza Lima




Fonte: Site da Feira Pan-Amazônica

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