Ver-O-Peso festeja 390 anos de história nesta segunda


Foto: Igor Mota

Um dos maiores símbolos da capital paraense – o Ver-O-Peso – completa hoje 390 anos de história. O mercado inaugurado dia 27 de março de 1627 se transformou, ao longo do tempo, em um gigantesco complexo, com quase 30 mil metros quadrados de área, onde circulam diariamente quase 50 mil pessoas. O Ver-O-Peso é hoje a maior feira livre a céu aberto da América Latina, com aproximadamente 5 mil trabalhadores distribuídos em cerca de 12 atividades e segmentos de vendas. A riqueza e exuberância do Veropa, como é carinhosamente chamado pelos habitantes de Belém, ainda chama a atenção de muitas pessoas que o visitam.
Na manhã de ontem, aproximadamente 50 pessoas foram ao mercado participar do Roteiro Geoturístico do Ver-O-Peso, organizado pelo Grupo de Pesquisa de Geografia do Turismo da Universidade Federal do Pará (UFPA). A professora do curso de Geografia da universidade, Maria Goretti Tavares mostrou os diferentes espaços do Ver-O-Peso, como a Praça dos Pescadores, onde chegam pequenos barcos, algo tradicional ao longo da costa da capital. 
Os roteiros são realizados duas vezes por ano na feira. O primeiro passeio é realizado na véspera do aniversário do Ver-O-Peso e o outro no segundo semestre do ano. “O Ver-O-Peso valoriza o nosso patrimônio arquitetônico e imaterial. Temos desde os sabores até as erveiras. Este é um patrimônio geográfico da nossa cidade, da nossa arquitetura, da nossa cultura em geral. Vir conhecer mais do Ver-O-Peso desperta todo o sentimento de pertencimento e amor pela cidade e assim cuidamos mais de Belém”, destacou.
Para o feirante Valentim Filho, de 51 anos, que trabalha há 15 anos na feira vendendo coco e mandioca ralados, o melhor presente para o Ver-O-Peso seria a melhoria do espaço. “A situação está muito complicada. Tem muitos bandidos aqui que afastam os clientes. Nós temos que estar atentos pra não sermos roubados”, reclamou. Ao longo dos anos ele viu as vendas caírem em torno de 70% a 80%. “Logo no começo era muito boa. A clientela era boa. Hoje as pessoas preferem ir no supermercado porque é mais seguro”, apontou. O lado bom de trabalhar no Veropa são os colegas que animam o dia de trabalho.
Apesar dos problemas que lista - como insegurança, necessidade de reformas estruturais, instalação de internet e banheiros -, o artesão Jones Medeiros, de 32 anos, há dez anos trabalhando na feira, gosta de trabalhar no Ver-O-Peso. “O lado positivo é que temos muito conhecimento de mundo. É muito conhecimento de vida com as pessoas daqui”, relatou.

O casal de namorados Erica Lorena, de 31 anos, estudante de Serviço Social, e Ivan Costa, de 27, estudante de Engenharia Mecânica, participaram do quarto roteiro geoturístico. “É bom para conhecermos melhor a cidade em que moramos. Muitas vezes nós sabemos muito pouco da história do Ver-O-Peso”, avalia Ivan. Erica ainda não tinha percebido algumas coisas no Ver-O-Peso e o passeio serviu como uma oportunidade. “Às vezes você vem com pressa pra comprar alguma coisa e não atenta para as coisas. Num passeio como este você vem com mais calma pra conhecer melhor um lugar que você já conhecia”, apontou.
O Ver-O-Peso também possui clientes fiéis, como Cândido Luz, de 67 anos, que prefere a feira a céu aberto do que supermercados. “A tradição faz com que a gente venha comprar tudo aqui. Vir ao Ver-O-Peso é um diferencial: os produtos daqui são melhores. A importância econômica é que gera receita pro nosso Estado”, avaliou.
Mais de um milhão de reais circulam diariamente por todo o complexo
Dados do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos do Pará (Dieese-PA) apontam que diariamente quase 50 mil pessoas circulam pelo gigantesco complexo, considerado a maior feira livre a céu aberto da América Latina. A estimativa do Dieese-PA é que os 12 ramos diferentes de atividades desenvolvidas por aproximadamente cinco mil pessoas distribuídas no Complexo do Ver-o-Peso injetem na economia, diariamente, mais de um milhão de reais.
Entre os ramos econômicos que podem ser encontrados na feira estão vendas de frutas, produtos típicos paraenses, artesanato, comida, venda de carnes e peixes e até serviços de barbearia. O Dieese-PA ressalta que a cada ano os dados levantados no estudo são impressionantes. Somente na Feira do Açaí, mesmo com os problemas ligados a sazonalidade do fruto, estima-se que a comercialização média por ano alcance cerca de 30 toneladas do produto, movimentando uma receita gigantesca em vendas. 
No caso especifico do pescado, os números também são gigantescos. O Pará está entre os maiores produtores de pescado do país, contribuindo com a balança comercial nacional com cerca de 20% de todo o pescado produzido. A produção paraense é de cerca de 300 mil toneladas/ano e uma parte considerável desta produção escoa diariamente pelo Complexo do Ver-O-Peso. Por dia transitam no complexo entre 80 e 100 toneladas de pescado, chegando a 160 toneladas por ocasião da Semana Santa. Entre 12 a 15 toneladas são comercializadas diariamente no próprio Mercado do Ver-o-Peso e o restante é distribuído pelos demais mercados municipais e feiras da Grande Belém ou exportado em caminhões frigoríficos para outros municípios e Estados.
O comércio pesqueiro domina o lugar com a venda de cerca de 40 tipos diferentes de pescado, como dourada, pescada branca, pescada amarela, pescada gó, filhote, tamuatá, corvina, cação, enxova, pratiqueira, tambaqui, tucunaré, mapará, xaréu, sarda, pirapema e tantos outros.
Diariamente, dezenas de outros produtos, entre eles a farinha de mandioca e os produtos hortifrutigranjeiros típicos da região são vendidos. No caso da farinha, cerca de 30 comerciantes vendem por dia, entre quatro mil e cinco mil quilos, com uma média mensal de aproximadamente 140 mil quilos. O produto chega, em maioria, das ilhas próximas de Belém, como também de Santa Izabel, Capitão Poço e outras cidades do nordeste paraense. A média anual de comercialização da farinha nos últimos oito anos está estimada em aproximadamente 100 toneladas. 
No caso dos hortifrutigranjeiros, as vendas alcançam 30 toneladas de hortaliças, legumes e produtos de granja mensalmente. Mais de 70 vendedores comercializam cerca de 10 mil maços de verdura por dia a preços que oscilam entre R$ 0,50 e R$ 2,50 a unidade, o que resulta numa renda entre R$ 400,00 a mil reais em um dia movimentado. Cheiro-verde, alface, tomate, caruru, couve e alfavaca dobram de quantidade na época da safra. E no período do Círio acontece a maior comercialização diária de tucupi e maniva.
No setor de cereais, cerca de duas toneladas são comercializadas por dia, contando-se arroz, feijão e outros grãos vendidos nas barracas próximas ao Mercado de Peixe. Há ainda os vendedores de bombons regionais e de polpa de frutas, cuja venda varia de acordo com a safra, com grande variedade em qualquer época, de modo que os clientes podem encontrar cupuaçu, bacuri, maracujá, acerola, goiaba e taperebá para vendas no atacado e no varejo. 

Fonte: PORTAL ORM

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